quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Entre a definição e a (in) definição




Vivemos um momento social muito pobre do ponto de vista do desenvolvimento social, mas frutífero na óptica de observação dos visionários, dos que procuram viver num estado de presença, dos que não tentam encontrar na consciência uma definição da forma, mas a eterna indefinição da substância humana.
Todos os processos dedutivos falham redondamente no território da psicologia emocional, espaço onde a indução prevalece. Essas certezas das definições e dos conceitos sólidos, dos formalismos processuais jurídicos, são fruto da pequenez humana, da mesquinhez dum labor que se quer fácil e dito objectivo.
 Existe uma verdade maior comum a todos os seres humanos, destruída pelas rudimentares verdades (?) formais, por feições estanques sem alma, por estereótipos vestidos de divisões e barreiras sem sentido.
O tempo tornou-me mais tolerante, mas ao mesmo tempo mais inquieta nesta quietude de acreditar cada vez mais na voz do coração, no sentir que nasce do que vulgarmente denominamos Alma, mas que não sabemos definir, essa dança livre sem ortodoxias rígidas, que assiste à indefinição dos limites da rebentação de cada onda do mar.
Um dia alguém me disse que baralhava conceitos, como sabedoria e conhecimento. Talvez, mas sei que o verdadeiro saber nasce do sentir, e que conhecer é muito pouco. Sei que o tempo relativiza os pensamentos e que os murmúrios do oceano serão sempre indefinidos.
 Há coisas que não entendo, nesta dita definição que os legalistas gostam de pensar que vivem. A hipocrisia que reina na sociedade e em particular entre alguns magistrados e políticos deste país deixa-me mais leve, pois sei que não é por ali que vou, como diz o poema do Régio…
São muitas as coisas que talvez um dia conte por aqui ou por ali… mas gostava de saber como desaparecem documentos dum processo judicial e outros nem são lidos por quem de direito. Mas isto, são águas a serem explanadas na corrente que o tempo guarda…
E com estas indefinições tão definidas, resta-me citar Gibran:

 O Conhecimento

Não digais: achei a verdade.
Mas antes: encontrei uma verdade.
Não digais: encontrei o caminho da alma,
mas antes: encontrei a alma no caminho.
Porque a alma pisa todos os caminhos.
A alma não anda sobre uma linha
mas cresce como a árvore.
A alma desdobra-se como uma lótus
de inúmeras pétalas.

Khalil Gibran (*), in “O Profeta” [1923]
(*) filósofo, ensaísta, poeta e pintor: nasceu em Bsharri (Líbano) em 1883 e faleceu em Nova Iorque  em 1931.

Fotos: estátua de Khalil Gibran, em Bsharri (localidade perto de Beirute – Líbano).

18 comentários:

  1. Gostei das fotos, além de serem boas dão-nos a conhecer o ignorado.
    Mas gosto sobretudo de ler o que escreves. Que o Pai Natal não deixe que se escoe a tua maneira de ser
    Beijos
    Maga

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  2. É que o conhecimento gratifica o ego e a sabedoria só acontece quando ele é esquecido ou mesmo anulado .

    Obrigada pela sua visita e palavras .

    Um beijo ,
    Maria

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  3. Maravilhosa e Doce Amiguinha:
    Num texto extraordinário e lindo a verdade e pureza de um sentir doce, terno, sensível, e extraordinário, O SEU!
    Adorei.
    Uma dissertação fabulosa que é um hino sentido à nossa vida.
    Já registei e concordo em absoluto pela gigantesca significação de uma abordagem fantástica ao quotidiano estereotipado do mundo de hoje que não dá espaço aos sonhos.
    Possui uma alma gigantesca e pura. Acredito nela.
    Por vezes, custa-nos enxergar tanta maravilha e encanto do Universo.
    Cremos ser detentores de toda a verdade e não damos valor a nós próprios, à ternura do nosso ser e sentir.
    Adorei. Uma dissertação plena. Imensa.

    Parabéns sinceros pela encantadora pessoa sensível e perfeita que é.
    Bem-Haja.
    Beijinhos amigos perante a sua pureza e encanto numa genialidade perfeita e deliciosa que constato.
    Excelente!
    Com imenso respeito pela sua imensa significação na Blogosfera. É uma referência fabulosa aqui.

    pena

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  4. GUIAR-SE PELOS PRÓPRIOS PASSOS COMO DIZ JOSÉ RÉGIO...AS TENTAÇÕES SÃO FORTES E HÁ QUE SER FORTE E NÃO DEIXAR-SE GUIAR PELA CORRENTE...O CAUDAL JÁ É FÉRTIL... MUITO CONFUSO E SUJO...
    SALVE-SE QUEM PUDER!!!

    BEIJO

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  5. Não te acho nada baralhada.
    Muito lúcida e com um texto elucidativo. como eu gostava que legisladores e legalistas te lessem :-)

    Bjs certos

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  6. Beautiful Shots and lovely post !! This is very nice !!

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  7. Querida amiga Chris, sinto que sabes de coisas que te apetece tornar públicas. Não estás sozinha... estamos num país que não se governa nem se deixa governar. É impressionante como eu concordo com os teus pontos de vista. Até da alma, que eu não sei bem o que é...
    Um feliz Natal, querida Chris.
    Beijos.

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  8. Maravilhoso isso e gostei desse teu blog também!beijos,chica

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  9. A curiosidade me encamunhou do "Momento Certo"
    até ao "Momentos Incertos". Chegado aqui deparei com um maravilhoso espaço, com uma
    temática totalmente diferente do que me é dado
    encontrar. Adorei tudo quanto li e decidi ficar
    também por este sítio.

    Uma vez mais, votos de um Novo Ano feliz.

    Beijos

    Alvaro

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  10. Querida Chris, estou passando para desejar a ti e aos teus um ano de mais paz e saúde pra todos. Que 2010 seja um ano de muitas realizações. Após essa 'virada', estarei aqui para te ler.
    Obrigada pelos teus votos de um bom ano.

    meu carinho
    tais luso

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  11. Um Bom Ano e muitas certezas e incertezas. Assim é feita a vida...Bonito texto este. Um abraço

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  12. Chris,

    uma belíssima ilustração e um texto exemplar. Neste blog, " momentos incertos" é o que temos de certo nas definições , explanações e demais postagens inteligentes, sensíveis e talentosas.


    Carinhoso beijo

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  13. *
    ou a verdade
    não fosse abstracta.
    ,
    conchinhas,
    ,
    *

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  14. Um texto escrito por quem sabe escrever muito bem, e por quem sabe de outras coisas. Um texto feliz que traduz uma grande infelicidade.
    Briosas saudações

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  15. cris obrigado pelas palavras no meu blog e quanto a este texto, a verdade vem sendo para mim objeto de constantes reflexoes interiores,principalmente porque sempre desconfio das verdades aceitas por todos,este espaço(o teu blog) é maravilhoso.
    abraços.

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  16. Obrigado a todos os que leram este texto...
    o que tenho para dizer do mal estar social vai continuar por aqui...
    Um abraço
    Chris

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