domingo, 8 de novembro de 2009

Faces ou Fases Operativas?


O remoinho social em que vivemos assombra qualquer possibilidade de criar um espaço, onde a liberdade e a dignidade da pessoa humana sejam o ponto central nesta topografia social.

É quase norma instituída para o poder corrosivo, com máscaras abrasivas, o insulto gratuito, a difamação descomprometida… estas teias faciais sem rosto, onde o apadrinhamento impera e rasteja. Operações e cálculos sem ciência, golpes de engano embutido... é este o domínio restrito onde se movem as marionetas do poder.

Quem tem a prerrogativa constitucional para investigar (investigações pagas com o dinheiro dos contribuintes, não o esqueçamos…), não entende que o que é preciso não são mais meios, mas uma maior isenção, pois o sistema está minado, com infiltrações cada vez mais visíveis, falhas mestras que alastram no âmago da democracia.

É preciso mostrar trabalho, mesmo que para tal se atropelem os direitos básicos dos cidadãos. Assistimos quase diariamente a episódios descompensados e profundamente infelizes.

Um exemplo entre tantos: há uns dias, parada num engarrafamento de trânsito, assisti a mais uma cena lamentável que envergonha esta "democraciazinha" sem capacidade de evoluir. Um carro da P.J.,assinalando a sua marcha prioritária com a sirene azul (de acordo com o código da estrada) foi passando por entre as viaturas paradas, até que uns três ou quatro carros à minha frente, um dos senhores que seguia nessa viatura não identificada, solta um palavreado impróprio para o condutor duma viatura que não se desviou. Fiquei estupefacta, com as palavras que não reproduzo aqui... não queria acreditar que sendo a P.J. uma polícia com uma preparação qualificada e específica (muito diferente da PSP e da GNR) pudesse um dos seus agentes ter um procedimento daqueles, como se o salazarismo ainda imperasse por aqui.

Por vezes, penso que sim, e uma nova revolução urge nesta urbe com pouca urbanidade, chamada “portus cale”

E assim, vamos continuar com as operações ocultas, negras, brancas ou cor-de-rosa, pois o espectáculo a que a justiça se submete é decadente. A justiça não assenta em valores ou princípios economicistas, como nos querem fazer crer, mas sim na dignidade humana. A criminalidade económico-financeira deve ser combatida, sem dúvida, mas com o respeito que nos devem os senhores a quem pagamos os salários no final do mês…

pois, esta dança tosca de investigações que só tem como objectivo, a rotação decrépita das cadeiras e outro mobiliário do poder instituído, já aborrece!


E o Futuro começa Hoje…


“Os próprios Gregos também se sentiram presos no tempo e no espaço. O Camões, inclusivamente, ensinou, na Ilha dos Amores, que a pessoa só está presa no tempo e no espaço quando não é criador… a ilha dos Amores foi criada pela deusa da criatividade. Foi ela que fez aquilo e que depois veio falar aos portugueses. Falar de quê? Falar de Futuro!”

Agostinho da Silva (*), in “A Última Conversa” [1995]


(*) filósofo, poeta e ensaísta português nasceu no Porto a 13 de Fevereiro 1906 e faleceu em Lisboa a 3 de Abril 1994.


Imagem 1: desenho de Marta Koll.
Imagem 2: contracapa do livro referido, com citações de Agostinho da Silva.