

Dizem que a escolha é nossa, mas como se decide no cerne da mediocridade?
O sentido definido sem lamúrias do destino, sem fado lúgubre desta mesquinha culpabilidade, deste assombro de sombras confusas, desta mutabilidade imóvel suspensa em marionetas…
talvez por tudo isto, acredite que o país onde nasci, um dia alará como cavaleiro duma qualquer caravela, deste sangue que molda quase nove séculos um templo sem tempo, olhos abertos ao azul imenso do Atlântico…
Este ilustre pedestal de mármore erguido, que espera um qualquer D. Sebastião, sol doirado até cegar ou bruma densa até claudicar? Não sei por quem esperamos, que espera é esta do amanhã, vertigem que o momento presente condensa em obscuridade e condena um povo à sua tangibilidade, sem vislumbre dum outro horizonte...
Nada lamento, nada peço, sigo a luz que eclode dentro de mim, na fusão de todos os opostos duma nova dimensão, permeabilizando estereótipos, arquétipos e simbologias herméticas.
Sem rituais de vassalagem, o mar que me avassala é brando e justo, da justiça que os homens esqueceram, da brandura que os Deuses ignoraram.
Recortes de formas adulteradas moldam o pensamento laicizado de emoção, esta falta de consciência dos seres que povoam os órgãos da política… e não só, dos outros falarei depois.
Recordo hoje, o meu primeiro envolvimento político, o coração junto às cordas vocais por paixão (ainda hoje sou assim…), da primeira vez que votei, da primeira causa política na qual participei activamente contra a vontade do meu pai, da primeira eleição presidencial do Dr. Mário Soares (1985), casta que dificilmente se voltará a repetir. A inteligência era aliada de alguns políticos desse tempo, entre o manifesto e o protesto…
Hoje, temos os piores… assim, teremos que escolher um mal menor….
Acredito que depois deste mal menor, Portugal reencontrará o seu “Bem Maior”.
… Portugal perdeu a capacidade de sonhar… lá voltaremos…
Um sonho ainda chamado Portugal, adiado por timoneiros sem leme, nem tino…
Permanecemos neste dilema entre o sonho e o sonhador:
“Existe o sonho e existe o sonhador do sonho. O sonho é um breve jogo de formas. É o mundo – relativamente real, mas não absolutamente real. Depois há o sonhador, a realidade absoluta, na qual as formas vão e vêm. O sonhador não é pessoa. A pessoa faz parte do sonho. O sonhador é a base na qual o sonho aparece, aquilo que torna o sonho possível… O sonhador é a própria consciência - quem nós somos.”
Eckhart Tolle, in “Um Novo Mundo” [2005]
Foto 1: painel do soalho do Padrão dos Descobrimentos, em Belém.
Foto 2: corria o ano de 1985, para os lados de Belém...