“O poder é a capacidade que os homens têm de criar para os outros um destino, essa é a essência da sua perversão”
António Alçada Baptista
Um ano após, estou de regresso a este meu recanto partilhado publicamente, sem chave de acesso, nem malabarismos pérfidos, onde partilho algumas ideias sobre a visão que tenho (sinto) das várias facetas e prismas projectadas num imenso écran a que chamamos sociedade.
Neste último ano a panóplia de patologias sociais foi exponencial, numa das fases mais redutoras do desenvolvimento social. A ditadura dissimulada existe, com vestes que nem todos sabem decifrar... refugia-se na hipocrisia das formalizações estereotipadas e caducas, e é-nos apresentada em embalagens coloridas para iludir o sentido da verdadeira luz.
Existe uma perigosidade real, por vezes com laivos caricaturais, de no futuro que é o hoje consciente, as pessoas serem tratadas como coisas, controladas e cilindradas por sociedades secretas... mas há quem recuse compactuar com o circuito fechado, irradiado em tentáculos poderosos no domínio da justiça, da política, da economia...
Para alguns a inteligência mantém-se na razão, nos números, nas formas e fórmulas arquitectadas para provar a estupidez reinante... mas de reinos e tronos ocos está este mundo mais que povoado. E a inteligência emocional e espiritual onde fica na encefalia destes senhores reinantes?
Há uns dias ouvi uma notícia, que não sendo importante, revela o lado caricatural destes políticos mesquinhos, traçado a régua e esquadro escamados, mas de arquitectura e arte nada entendem, e provavelmente estão na era da desaprendizagem da tabuada decorada ou do nome seguido no estreitamento cronológico de todos os reis e rios... sem entenderam o sentido das leis da natureza e da matemática, como o fluir da história da humanidade lida por dentro da alma... ora, a notícia, dizia assim: "quem não responder aos censos 2011, será multado e terá um polícia à porta" - um pequeno exemplo da estupidez que nem na época medieval existia, quando se queimavam livros e gentes, com medo de revelação de algumas verdades anti-sistémicas.
Será que alguém se interroga sobre as grandes mudanças interiores do ser humano? Claro que não, pois o que importa para os sisudos formais, que se esqueceram que tudo nasce de dentro e não o inverso, continua a ser esta ditadura económica dos números, dos défices, das metas orçamentais, das concorrências, das competitividades, das sustentabilidades, das formalidades sem substância… e outras "ades" que substituo por "odes"… pelo valor da palavra, da importância do Amor, do sorriso, da solidariedade activa, do despojamento de velhos egos, e da entrega incondicional à vida que pulsa de dentro para fora…
Desde a política à justiça, que encontramos muitos casos que ilustram em tons desconectados, a redoma sépia e macambúzia dos sorumbáticos do sistema perverso. As regras hipócritas que subsistem, à custa de jogos e manigâncias da classe política, das infiltrações de sociedades secretas, nomeadamente em processos judiciais, em compadrio com sectores da actividade económica…
Enquanto cada um não entender que a verdade vem da integração dos opostos e não da separação dos mesmos, vamos continuar nos jogos castradores da justiça e da verdade, das mentiras moldadas na forma e na falta substancial dos descompensados de paz e de harmonia...
Mas, Deus continua a sorrir… em silêncio …
“… passamos a vida a medir as sombras da Terra, é tempo de começar a decifrar a escrita dos céus…”, António Alçada Baptista, in “O Riso de Deus” [1994].